domingo, 24 de junho de 2007

Intimidade e Abuso

É fato sabido que as relações íntimas, maritais, coabitacionais ou de namoro são, por vezes, pautadas pela presença de algum tipo de disfunção e, não raro, de abuso franco. De fato, “existem relações amorosas claudicantes, onde a pessoa que ama não deseja apenas o outro, mas deseja também o desejo do outro, o sentimento do outro e tudo o que possa estar ocorrendo na intimidade psíquica do outro. Diante da impossibilidade de nos apossarmos do sentimento alheio, a pessoa que ama sofre, pois o outro pode não estar sentindo aquilo que se deseja que sinta, pode não estar pensando justamente aquilo que se deseja que pense.

Na medida em que as pretensões de controle sobre os sentimentos da pessoa amada não são contidas, não são ponderadamente refreadas, surge uma imperiosa inclinação para a posse, para o domínio da pessoa amada.”

O abuso no relacionamento interpessoal íntimo tem efeitos danosos marcantes na qualidade de vida, na saúde física e emocional. Tem sido freqüente o comportamento abusivo no relacionamento íntimo, com prevalência variada em diversos países e através de alguns tipos de abuso, como por exemplo, abusos físico, sexual e psicológico.

Entre os estudos e reflexões sobre o comportamento abusivo na vida íntima e/ou conjugal existe a teoria da formação dos vínculos afetivos na infância, enfatizando o impacto da qualidade das relações familiares e o impacto de eventuais abusos sofridos durante a infância, os quais, por sua vez, interfeririam na qualidade do relacionamento com o companheiro na idade adulta.

A incidência desse tipo de comportamento abusivo se comprova alta, acima do que se suspeita, e é mais comum no início da idade adulta (Bachman, 1995), sendo o grupo que mais apresenta comportamento violento dos 19 aos 29 anos de idade.

Incidência de comportamento abusivo no relacionamento íntimo é um dado difícil de se pesquisar, notadamento porque existe uma tendência a ocultar esse tipo de comportamento dos demais. Na maioria das vezes o relacionamento não se desfaz porque o companheiro(a) não abusivo(a) insiste em acreditar que, de uma hora para outra, mediante amor, carinho, fé, complacência e tolerância, ou ainda "incentivada" por submissão à princípios religiosos distorcidos e idealização de um "milagre divino", haverá uma grande mudança na personalidade do outro, que passará a ser a pessoa ideal.

Os aspectos sobre prevalência desses casos são baseados no trabalho de Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, publicado na revista Psicologia, Saúde & Doenças (2003). Afirmam que em 1981, pela primeira vez foi referido que 21% dos estudantes pré-universitários vivenciaram um ou mais atos de agressão física em suas relações com o(a) companheiro(a). (Makepeace). Estima-se que 4 milhões de mulheres norte-americanas são vítimas de algum tipo de agressão séria por parte do companheiro por ano, destas, cerca de 1 milhão são vítimas de violência física não fatal (Rush, 2000).

Segundo Carla Paiva e Bárbara Figueiredo, no ano de 1996 as estatísticas oficiais norte-americanas mostraram que 1,5 milhões de mulheres e 834.700 homens sofreram abuso físico ou sexual por parte do(a) companheiro(a). Em 1998, cerca de 1.830 homicídios foram atribuídos ao companheiro, sendo que 3/4 das vítimas são mulheres (Rennison, 2000). Entre os anos de 1993 e 1998, cerca de 2/3 das vítimas de abuso pelo companheiro referem seqüelas físicas, enquanto que 1/3 reporta apenas ameaças ou tentativas de violência.

Outro fato bastante conhecido das pesquisas e das entidades que prestam assistência à esse tipo de problema, é que a maioria das vítimas de abuso pelo(a) companheiro(a) não procura assistência policial, jurídica, psicológica ou médica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ol� Virgilio!Sou professora e infelismente tenho o conhecimento deste tipo de caso quase que freq�entemente.� dif�cil lidar com isto,por saber que na maioria das vezes as crian�as est�o envolvidas.Mesmo, que como espectadores.Gostaria que escrevesse mais sobre o assunto.

Anônimo disse...

O meu comentário vai fugir um pouquinho do proposto aqui.É sobre abuso, mas quando se refere aos familiares com as crianças. eu acho que isso deveria ser trabalhado de maneira mais eficiente na cidades por aí. As crianças sofrem muito com isso e o pior é que nunca mais são as mesmas.Eu sofri muito durante minha infancia com isso (era com meu pai) e ninguem fez nada. Nem minha mãe,nem a igreja,nem o pastor,nem o ancião, aliás, meu pai era o ancião.Era óbvio que as pessoas mais experientes percebiam, mas ninguem fez nada.
Eu senti ese desprezo por parte da igreja.