O desemprego já foi apontado como um dos principais causadores da impotência sexual
de origem psicológica. Mas até agora ninguém havia dimensionado o problema no
Brasil. A coisa é séria.
Uma pesquisa inédita do Hospital das Clínicas
de São Paulo concluiu que, entre os homens desempregados, o risco de falhar na
hora H é 83% maior que entre aqueles que mantêm a carteira de trabalho assinada.
O levantamento ouviu 2.835 pessoas maiores de 18 anos em dez cidades
brasileiras, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Outra
surpresa da pesquisa é que, no caso das mulheres, o desejo sexual tem 66% mais
probabilidade de desaparecer quando elas são demitidas.
"O emprego acaba
funcionando como uma proteção contra os problemas sexuais", diz a psiquiatra
Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade, responsável pelo estudo. O
mecanismo é fácil de entender. Os que estão sem trabalho têm uma tendência maior
à depressão e à redução da libido.
O mesmo levantamento mostrou que a
depressão aumenta em 93% o risco de o homem ter disfunção erétil. Ou seja, nem
todos os desempregados sofrem de depressão, mas, quando ela ataca, dobra o risco
da frustração na cama. A questão torna-se potencialmente explosiva quando se
leva em consideração que um dos principais problemas brasileiros hoje é a falta
de postos de trabalho.
A taxa de desemprego na região metropolitana de
São Paulo, por exemplo, registrou 19% em fevereiro o maior índice desde maio do
ano passado, segundo anunciou na terça-feira passada o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Nunca se
buscou tanto uma solução para problemas relacionados à ausência de desejo como
hoje.
A falta de uma vida sexual normal é um problema incômodo. De
acordo com os números do Projeto Sexualidade, quase 35% das brasileiras se
queixaram de perda de apetite sexual no levantamento. Entre os homens, 15%
sofrem de disfunção erétil em grau moderado ou total. Estudos recentes mostram
que na Itália esse índice sobe para 17%, enquanto no Japão a taxa é de 34%.
Nos Estados Unidos, 30 milhões de americanos apresentam algum tipo de
dificuldade de ereção. Entre as causas físicas que podem comprometer o
desempenho sexual estão o diabetes, infecções urinárias e doenças do coração. A
chamada impotência psicológica é apenas uma parte do problema.
O grave é
que algumas pessoas se negam a relacionar de imediato o baixo desempenho sexual
com o desemprego. "Eu não conseguia ter relações, não sentia mais prazer. Também
não queria aceitar que o problema tinha fundo psicológico", lembra o
microempresário paulista S., de 51 anos. "Foi um período horrível, em que meu
casamento quase acabou." O bom desempenho voltou somente depois de buscar ajuda
médica e de, claro, ter novamente uma ocupação na sociedade". fonte Veja
de 02/04/03