sábado, 31 de março de 2007


Sexualidade Cristã: SEXUALIDADE FEMININA.
Conflitos e comportamento de evangélicas

Você já se perguntou até que ponto suas escolhas, inclusive as que estão ligadas à sexualidade, são regidas por sua fé? É bem provável que sim. O psicólogo Adventista Virgílio Gomes do Nascimento, além de fazer a pergunta, foi atrás da resposta. Formado em Psicologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, ele trabalha com aconselhamento de casais e famílias desde 1991. Recentemente, Nascimento defendeu, no mestrado em Sexologia da Universidade Gama Filho, a seguinte dissertação: Norma e transgressão da sexualidade: uma pesquisa acerca dos transtornos sexuais femininos e conflitos entre atitude e comportamento sexual num grupo de mulheres evangélicas do Grande Rio de Janeiro.

O estudo, feito durante dois anos e meio, foi motivado pelas experiências profissionais e ministeriais de Nascimento. “Em atendimento psicológico no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de Janeiro, ouvia de meus colegas comentários sobre a dificuldade de tratar mulheres evangélicas. Era como se elas fossem mais ‘problemáticas’ que as outras”, afirma ele. Uma outra inquietação do pesquisador é a falta de debate sobre esse assunto na comunidade evangélica, resultando em uma grande escassez de informação sobre o tema. E, por fim, a falta de preparo de pastores e líderes para atender e aconselhar mulheres em questões sexuais.

Elas foram desafiadas a falar sobre dúvidas e pontos específicos que Para iniciar a pesquisa, ele entrevistou 40 mulheres evangélicas sobre o assunto. relacionassem sua sexualidade à sua fé. A partir dessas entrevistas, foram listados 27 assuntos, divididos em seis categorias: sexo antes do casamento, inovação nas práticas sexuais, manutenção do relacionamento conjugal, comportamento assertivo e submisso-autoritório, influência do moralismo-religiosidade, possibilidade de disfunções sexuais.

Essas seis categorias originaram 135 perguntas, reunidas em um questionário que foi respondido por 400 mulheres: 80 assembleianas, 80 batistas, 80 metodistas, 80 presbiterianas e 80 adventistas. Todas elas maiores de 18 anos, membros de igreja e moradoras de municípios do Rio de Janeiro e Grande Rio (Belford Roxo, Nova Iguaçu, Nilópolis e Mesquita). A escolha dessas denominações foi motivada pelo fato de serem históricas e mais tradicionais, o que significa doutrinas mais estáveis e constantes.

No trabalho, primeiro foram analisadas as normas, em seguida, a atitude das fiéis em relação a estas normas. Após isso, a prática destas normas e, por fim, o resultado. O que se viu é que, embora em concordância com os preceitos apresentados pela Igreja, a mulher evangélica nem sempre os pratica. Na questão do sexo pré-matrimonial, por exemplo, cerca de 70% em todas as denominações concordam que a mulher deve casar-se virgem. Mas quando a pergunta quer saber quem se casou virgem, as respostas são bem diferentes. Menos da metade de todas as denominações, com exceção da metodista, indicou assim: 40% das assembleianas, 47,3% das adventistas, 48,2% das batistas, 44,1% das presbiterianas e 58,2% das metodistas. De uma maneira geral, elas reconhecem a importância de seguir o credo religioso, mas na prática agem contrariamente ao discurso religioso oficial. “Essa situação dissonante, constantemente empurra o indivíduo para conflitos graves, intervindo na qualidade de sua vida sexual, podendo vir a se configurar num distúrbio de natureza sexual”, diz o terapeuta.

Ele explica que o contexto cultural funciona como uma lente através da qual podemos ver o mundo. O indivíduo fica condicionado a reagir dentro de padrões manifestos pela maioria da comunidade. “E essas normatizações de convívio apresentaram-se como instrumentos de controle da sexualidade”, completa. Segundo os dados da pesquisa, enquanto, numa média geral, 60% das mulheres disseram já ter praticado sexo anal, quase 30% se dizem culpadas por tê-lo feito.

Virgílio Nascimento: “A mulher crente passa por um momento de profundas reavaliações de seu papel socio-religioso-sexual, confrontando-se com aspectos tradicionais".

Por outro lado, o psicólogo explica ainda que algumas dessas mulheres entrevistadas devem também pautar suas condutas por outros referenciais socioculturais e não só os religiosos, mesmo que cerca de 80% tenham afirmado que a religião orienta toda sua vida. Isso também pode ser visto na medição em que elas são levadas a responder se as práticas sexuais devem estar de acordo com as orientações da fé religiosa. Disseram sim 84,4% das assembleianas, 90,7% das adventistas, 71,6% das batistas, 84,8% das metodistas e 80,5% das presbiterianas.

DISFUNÇÕES
Há uma certa resistência com relação às inovações das práticas sexuais. O sexo com penetração vaginal é considerado, quase em absoluto, o que mais excita, e o anal o que menos provoca essa sensação. A pesquisa também revelou as principais disfunções encontradas entre as evangélicas: 10% têm dificuldades em ter desejo sexual, 6,3% apesentam dificuldades no momento de manter a excitação, 14,5% não vivenciam o orgasmo, 8% sentem freqüentemente dor na relação sexual e 4% não conseguem ter penetração.

Para Virgílio Nascimento, esse material não encerra a questão. Ao contrário, apenas abre. Tanto que já está se preparando para o doutorado na mesma área. Na opinião dele, as conclusões e apontamentos trazidos por seu estudo devem ser trabalhados pela liderança das igrejas e por profissionais que tratam de mulheres evangélicas. “É importante que os líderes religiosos reflitam sobre os resultados e percebam as discrepâncias entre o púlpito e o quarto do casal. Que os discursos se atualizem dentro do contexto social atual, trazendo respostas equilibradas e sensatas à membresia”, defende.

Sobre o uso da pesquisa por parte dos profissionais, ele comenta ainda que, em determinado momento, será importante para o terapeuta deter algum conhecimento da dinâmica das normas e crenças religiosas na vida da paciente evangélica. "Hoje, pontua o psicólogo, a mulher crente passa por um momento de profundas reavaliações de seu papel sociorreligioso-sexual, confrontado-se com aspectos tradicionais milenares e demandas atuais. Isso a inclui numa nova realidade do papel feminino, que de certo modo interfere na interpretação de suas crenças religiosas e vivência de práticas sexuais, por vezes colocando-a em situações conflituosas. O fato é que elas merecem, como todos, descobrir um caminho equilibrado, acolhedor e abençoado para o exercício pleno de sua realidade”, finaliza.

http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=52&materia=238

sexta-feira, 30 de março de 2007

Sexo além do comum

Para manter a satisfação sexual em alta, deve-se investir no diálogo e respeitar os gostos individuais. Sair a noite ou caminhar pelas areias da praia são formas de aumentar a intimidade. Isso é importante para criar um clima favorável. Sexo e qualidade de vida são temas que andam juntos. Não fosse assim, a divisão de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) não realizaria periodicamente estudos internacionais que incluem a sexualidade. Nas consultas feitas pelos pesquisadores, há espaço para perguntar sobre a satisfação sexual, valendo tantos pontos quanto a vida familiar, por exemplo.

O acesso mais fácil a relações sexuais ocorre entre as pessoas casadas, como sugere a lógica e comprovam os estudos. Mas o tempo prova que quantidade não significa qualidade. Com o passar dos anos, muitos pares tendem a sofrer também com a escassez de prazer na cama. Um dos problemas é a diminuição da libido. Qual seria a chave para resolver o drama da falta de tesão no relacionamento e manter o casamento vivo? Se não houver problemas de saúde, como vaginismo (espasmo doloroso da musculatura da região genital) ou doenças sexualmente transmissíveis, nem psicológicos (caso de depressão), não há razão para o pique sexual cair.

Para começar, muitas vezes é possível melhorar a relação com diálogo. Alguns casamentos definham por causa da falta de comunicação. “Todos pensam que não se pode falar sobre sexo. Só fazê-lo. Mas duas pessoas nunca se entenderão na cama se não falarem do que gostam e do que não gostam”, afirma a psicóloga Aparecida Favoreto, diretora do Instituto Paulista de Sexualidade. Sem essa troca, é comum a frustração ficar camuflada. E, para não deixar a libido lá embaixo, ter satisfação é fundamental. Por isso, para solucionar a crise o casal deve abrir o jogo, com delicadeza e compreensão.

Pesquisa feita pela entidade revelou que 90% dos casais com dificuldades sexuais que procuram terapia conseguem ter seus problemas resolvidos em seis meses, em média. Uma das bases da terapia é estimular o diálogo. Pode ser uma conversa erotizada, já nas preliminares. Mas o par não precisa estar sob os lençóis para abordar o assunto. Um jantar ou um passeio também são ocasiões para isso. O casal pode começar, por exemplo, com perguntas sobre quais pontos do corpo, além dos genitais, são mais sensíveis a carícias.

Virilidade – Para Aparecida, a mulher deve tomar a iniciativa da conversa, pois o parceiro frequentemente não tem consciência de que há algo errado no modo como encara a relação sexual. Isso porque ele está habituado a cumprir o papel que a sociedade lhe impôs: o de mostrar virilidade. Por essa razão, o homem costuma ser mais objetivo na cama. Até mesmo a biologia colabora para alimentar essa característica. Ele tem 30 vezes mais testosterona, hormônio responsável pela libido, do que ela. De qualquer modo, atualmente a mulher está mais disposta a pensar em sexo.

Hoje, um terço das pessoas que recorrem ao Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo (Prosex) é do sexo feminino – há oito anos, havia seis vezes mais homens em tratamento do que mulheres. É claro que nem sempre a perda de qualidade da atividade sexual está na falta de comunicação. Ela pode estar relacionada à formação da família, atrelada à perda de privacidade do casal. Como forma de economizar, muitos recém-casados vão morar na casa de parentes, principalmente dos pais. “O problema passa a ser a convivência com os familiares, que não deixam o casal a sós, dificultando o desenvolvimento da sexualidade”, avalia Aparecida. Com isso, as relações vão rareando.

Uma forma de controlar a situação é estabelecer momentos exclusivos para o casal, mesmo que não envolvam a transa. Sair juntos aumenta a intimidade do par. Isso é importante para manter um clima bom entre ambos. A perda de privacidade pode ocorrer ainda com a chegada dos filhos. “O casal se desapaixona provisoriamente para se apaixonar pela criança, e esquece de manter o hábito sexual”, diz a sexóloga Márcia Nehemy, da Universidade de Campinas. Ela lembra que também há influência biológica: a mulher ganha mais prolactina, hormônio que libera a produção de leite, durante a gestação e após o parto. A substância diminui o desejo feminino.

Márcia destaca mais um ponto para a manutenção de uma boa vida sexual: o respeito à individualidade. É importante que ele e ela construam um universo particular de valores do qual o outro não precisa fazer parte. “Para alguns homens, por exemplo, o futebol ou o bar com os amigos é sagrado. A mulher também tem o direito de construir suas ‘mesquitas’”, diz a especialista. Nesse caso, ela também pode estabelecer uma rotina com as amigas. Por exemplo, a criação de um time de futebol feminino. Prazeres ocasionais como esse ajudam a mulher a elaborar um mundo particular saudável. E às claras.


Muitas pessoas desenvolvem a individualidade por debaixo do pano. A infidelidade é um dos frutos desse problema. Dessa forma, a pessoa vive num universo paralelo. “Para tornar harmônica a necessidade de privacidade sem traição, o ideal seria o casal ter uma vida intensa em comum, mas também preservar a individualidade de cada um”, conclui a sexóloga Márcia.