A juventude, pressionada por um ambiente hedonista, grita silenciosamente por orientação
(Aneliese Alckmin Herrmann)
"Acredito que a maior tragédia do homem tenha ocorrido quando ele separou o amor do sexo. A partir de então, o ser humano passou a fazer muito sexo e nenhum amor. Não passamos do desejo, eis a verdade. Todo desejo, como tal, se frustra com a posse. A única coisa que dura além da vida e da morte é o amor". Esta observação de Nelson Rodrigues traz à tona a necessidade, cada vez maior nos dias de hoje, de dizer não ao sexo descartável. Vários depoimentos de jovens confirmam este fato: “O sexo hoje em dia está radicalmente banalizado. As pessoas esquecem de construir um relacionamento antes de trazer o sexo a ele", dizia recentemente um jovem a um conhecido jornal.
Passamos abruptamente de uma educação onde o sexo era tabu e a ignorância a respeito da sexualidade humana considerada uma manifestação de integridade moral, para uma outra onde tudo é “normal”, correto e permitido. O sexo passou a ser uma matéria de ensino esquecendo-se de que “não se ensina a fazer sexo assim como não se ensina a amar”. O advento da AIDS colaborou de certa forma para que os educadores, preocupados com a disseminação da doença particularmente entre os jovens, procurassem uma maneira de impedir o avanço do mal.
Mundialmente foi adotada uma série de medidas: campanhas preventivas, propaganda insistente no uso de preservativos, educação sexual nas escolas — que, no Brasil, é obrigatória para escolas de ensino fundamental e médio. No ser humano — racional —, que deve ter seus instintos sob o domínio da razão, o sexo deve ser manifestação de amor, verdadeiro amor. E amor exige conhecimento, convivência. Necessita de tempo. A juventude à deriva, sem distinguir claramente o certo e o errado, pressionada por todos os lados pelo ambiente hedonista de busca do prazer pelo prazer, precisa urgentemente de orientação. Mas surge uma questão: estaremos, pais e mestres, aptos a orientar? Estamos de fato conscientes de que o ser humano é racional, isto é, tem capacidade de escolha e pode, portanto, dominar seus instintos? É dessa conscientização que depende a orientação certa e segura.
Para citar somente um exemplo, o uso de preservativos é apregoado como sendo proteção absoluta contra a disseminação da AIDS. No entanto, é preciso esclarecer a juventude (e os adultos também!) que, se o preservativo falha na prevenção da gravidez, também pode falhar em relação ao risco de contrair AIDS, pois a transmissão se faz da mesma maneira. Quem embarcaria num avião que tivesse uma chance conhecida de cair, ainda que esta fosse mínima?
É preciso educar nossos filhos para uma vida moralmente sadia, e isto inclui um conhecimento adequado da sexualidade humana. E essa educação começa em casa. Os pais, porque amam seus filhos e querem sua felicidade, são as pessoas mais capacitadas para fornecer a eles os elementos básicos para o desenvolvimento saudável da sexualidade. A escola poderá ser um bom complemento. Bom complemento se bem orientada. Não podemos compactuar com toda essa deformação que presenciamos à nossa volta através de jornais, revistas, novelas, propagandas e programas de televisão. Desvios comportamentais, taras e doenças devem ser tratados em consultórios e não ser veiculados como algo necessário num relacionamento a dois. A imprensa deve repensar o seu trabalho e, numa atitude adulta, percebendo que ninguém quer a volta da censura, mas informação e lazer sadios, redimensionar qualitativamente aquilo que apresenta ao público.
A família, célula de uma sociedade bem estruturada, deve ser valorizada, amparada, respeitada no seu direito de dar aos filhos uma educação que lhes possibilite ser homens e mulheres de valor, cidadãos íntegros e retos. Os jovens gritam silenciosos que necessitam da nossa firmeza de conceitos morais, de nossa coerência de vida, da nossa luta por criar uma sociedade onde possamos viver como seres humanos racionais, no sentido exato do termo. Para isso vale a pena adquirir conhecimentos sólidos e verdadeiros que, como numa explosão radioativa, deixarão entre nossos adolescentes partículas que os ajudem a imprimir um ritmo adequado às suas vidas.
Dra. Aneliese Alckmin Herrmann é Prof. Adjunta do Departamento de Pediatria da Unifesp — Escola Paulista de Medicina e membro do Departamento Científico do Instituto de Estudos Mulher, Criança e Sociedade.
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