segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A OBRIGAÇÃO DE AMAR

Ao se casar, a pessoa está a demonstrar publicamente a sua obrigação de se doar ao cônjuge. É uma entrega afectiva, cognitiva e activa ao parceiro, numa relação de honestidade, exclusividade, fidelidade e nutrição mútua. Essa relação tende a crescer sadia, sempre iluminada pelos raios vibrantes do amor, que é um ingrediente indispensável nas trocas e interacções do casal. Nas relações de intimidade da alma, o amor torna-se uma regra de viver bem. É ele que mantém de pé a estrutura do casal que se une para a vida.

Com essa noção, amar deixa de ser uma questão de sentimento e desejo, para ser uma predisposição ou inclinação de agir dando prioridade às necessidades, aos desejos, fraquezas e limitações do outro. Praticando a norma do amor, perde-se o egoísmo e torna-se altruísta. Não exige; dá-se. Porque o amor é uma obrigação voluntária pessoal direccionada ao outro.
Para amar alguém, é preciso uma pessoa amar-se primeiro. Caso contrário, vai ser difícil ter sensibilidade e compreensão suficientes para amar a outra. Se a pessoa não se ama, o máximo que consegue fazer é querer induzir, manipular ou seduzir a outra para satisfazer as suas necessidades. O pior é que confunde isso com amor, enganando-se a si mesma.

Amor próprio Versus Egoísmo
A psicologia e o cristianismo concordam em que a norma do amor é o equilíbrio. Quando se ama o próximo deve-se fazê-lo tanto quanto nos amamos a nós mesmos. Não existe contradição aqui. Quando se leva em conta o que sente, a sua dor ou tristeza, habilita-se para considerar os sentimentos, as dores e tristezas dos outros. Ao compreender as suas próprias fraquezas, ter empatia pelas suas limitações e perdoar os seus próprios fracassos, qualifica-se para compreender a fraqueza, ter empatia e perdoar os outros.
Sempre que se fala em amor-próprio, é comum as pessoas trazerem à mente a ideia do egoísmo, narcisismo ou superioridade. Puro engano. Se pensarmos que o amor é o equilíbrio entre a liberdade e o limite; doação dentro de certos princípios e crescimento envolvido por normas de justiça, podemos compreender que o amor-próprio nos orienta para uma vida de sobriedade e moderação. No amor-próprio não há exageros, extravagâncias ou abusos. Na realidade, é ele que motiva o indivíduo a dominar-se.
Ao fugir do amor-próprio, a pessoa corre o risco de cair no egoísmo que é a distorção de um ego frágil, carente, ferido ou traumatizado. O egoísta não acredita no amor, porque não se ama e duvida que possa ser amado. Acha que, por não ser amado, não vai receber ajuda de ninguém; por isso, tenta apoderar-se de tudo. Nessa ânsia, ele não se preocupa com ninguém e passa por cima de qualquer um.
Dentro da dinâmica do egoísta, podemos observar que ele não usufrui do companheirismo e intimidade conjugal, porque não pode ser transparente nas suas intenções. Não se pode mostrar como é. Nunca é directo e aberto, espontâneo ou autêntico. O egoísta não pode desfrutar de proximidade com o outro, porque não pode ser visto. Reflecte sempre a imagem e não a pessoa. Não pode gozar de reciprocidade, porque não tem nada para dar. Não participa da mutualidade, porque não sabe trocar. Desconhece as vibrações do amor, porque a sua acção é constantemente governada pelo interesse próprio. Nem do sexo ele pode desfrutar, porque só pensa em usufruir.
O egoísta não pode interagir intimamente porque não se consegue entregar para uma relação honesta. Não emite calor, é frio, distante, solitário. Pode até acumular muito, mas é um eterno carente, com um vazio constante. Está sempre insatisfeito, porque sofre até com o que come.
O amor-próprio também não é narcisismo. O narcisista gosta demasiado de si próprio. Tem um ego inflado, pensando que é a coisa mais importante do mundo. Adora a sua própria imagem. Não cresceu para se tornar um adulto nas trocas com o mundo. A sua imagem é o objecto de adoração. Não se cuida no que é essencial, mas gasta a vida no que é artificial, invertendo os valores. Valoriza a banalidade, vulgariza o que é nobre. Falseia a modéstia; finge humildade com um objectivo: promover--se. Não sabe que o ser humano é mais que a imagem; que a pessoa é mais do que a imitação. O seu rosto não muda, porque é uma máscara que não envelhece.

Cinco Elementos
O amor-próprio flui através de cinco elementos básicos: conhecer, respeitar, cuidar, responsabilizar e compreender. Primeiro, é preciso entrar em contacto consigo mesmo através do auto-conhecimento. Nesse caminho vai-se percebendo como um ser separado dos demais. Vai encontrar-se como um indivíduo único. Vai deparar-se consigo como um agente livre para tomar decisões. Vai ter consciência de que as suas acções provocam consequências que podem beneficiar ou prejudicar outros, tanto como a si mesmo. À medida que cresce no auto-conhecimento, vão-se descortinando as experiências mais agradáveis e mais dolorosas. Também percebe que pode ter sofrido traumas que o marcaram. E, quanto mais se familiariza consigo, mais se capacita a se familiarizar com os outros.
No encontro consigo há o risco de não gostar do que descobre. Por isso, precisa de evoluir para o respeito. Respeitar é deixar ser. É não se prejudicar, é tolerar, admitir que o que acaba de descobrir é real. É aceitar-se como é. Se não se respeitar, vai desqualificar-se para lidar com as tarefas da vida como adulto equilibrado, cônjuge responsável, profissional eficiente. Pode até não gostar do que conhece, mas isso não muda nada. É como é. E até para mudar, precisa de se respeitar como é. Quanto mais se respeita, mais apto estará para se relacionar no contexto familiar.
O terceiro elemento do amor é o cuidado, a parte activa e realizadora do amor. “Quem ama, cuida”, costuma dizer-se. Precisa de aprender a cuidar de si. Às vezes é uma aprendizagem demorada, mas é só assim que o indivíduo pode usufruir da felicidade e tornar outra pessoa feliz. Só quando a pessoa aprende a cuidar de si, é que capta o significado de cuidar da outra.
Pelo facto de o cuidado ser uma acção que pode ou não ser praticada, surge a responsabilidade. Isso significa que, para amar, é preciso ter iniciativa, empenho e desempenho em favor do objecto que merece cuidado. Na responsabilidade pelo cuidado da própria pessoa, aprende-se a responsabilidade pelo cuidado da outra.
Finalmente, chegamos à compreensão como o quinto elemento do amor. Aqui entendemos que precisa de exercer compaixão, misericórdia, sintonia com os próprios problemas e fracassos. Descobre que precisa de ter paciência com as suas limitações, tolerância com os seus obstáculos. Se compreende as suas próprias irracionalidades, negligências e imperfeições, qualifica-se para compreender os outros.
O amor para com os outros não pode ser praticado se ainda não o exercitou consigo mesmo. Por isso, a regra do amor para com os outros começa por si.

Belisário Marques, Psicólogo

14 comentários:

Vivi Drumond disse...

Olá Virgilio, gostaria de apresentar-lhe o livro "Saindo da Casca do Ovo", de Claudio Nasjon e Cesar Salim. O trabalho é voltado para educação sexual dos adolescentes, tendo como foco o planejamento da iniciação sexual do menino. Mais informações no blog www.saindodacascadoovo.com.br.
Faça-nos uma visita! Obrigada por sua atenção, Vivien

Vanessa disse...

Adorei o post e o blog! Vou passar a segui-lo.
Felicidades

Anônimo disse...

Oi... tenho uma duvida... gostaria que Vc respondesse... se puder é claro... se um casal de jovens namorados pratica sexo antes do casamento.. e resolvem se casar... ninguem sabe... absolutamente ninguem.... o que fazer? tem que se contar pra alguem pra poder casar? uma vez eu escutei de um pastor que se esse "ato" nao se tornasse publico.... e o casal estivesse arrependidos... e se casassem... e claro pedissem perdao a DEUS tudo bem... mais e se o pastor da igreja na hora do curso dos noivos perguntar se o casal é virgem? o que falar? dizer que nao...?

Anônimo disse...

Oi, gostaria de saber mais a respeito sobre a masturbação feminina como é vista na bíblia... estou separada a um ano, sou adventista e como não tenho namorado, sofro por não conseguir ficar sem me masturbar...

Anônimo disse...

Oi, gostaria de saber mais a respeito sobre a masturbação feminina como é vista na bíblia... estou separada a um ano, sou adventista e como não tenho namorado, sofro por não conseguir ficar sem me masturbar...

Abel Sidney disse...

Virgílio, gostaria de saber como adquirir o seu livro "Relações líquidas".

Gostei muito do seu blog, principalmente por ele atender um público que não tem acesso fácil a textos esclarecedores e arejados, como os seus.

Quanta gente encucada e sofrendo por conta disso, até com medo de Deus...

No seu aguardo.
Abel

Anônimo disse...

Foi o meu primeiro contato com seu blog e realmente achei o artigo muito interessante.

Anônimo disse...

Muitos jovens precisam entender o que é o amor,alguns se casam pela paixão, nem sabem que depois o que determina a felicidade ou infelicidade é justamente esse amadurecimento, esse compromisso, a obrigação para com quem ele escolheu para toda a vida. Amei o artigo.Parabéns!!

Anônimo disse...

ah... concordo com qse tudo.. mas acho q qdo duas pessoas nao dao certo mesmo, e uma nao ama a outra tem direito de se separar.

claudia disse...

Olá virgilio!! primeiramente gostaria de lhe parabenizar pelo blogger, ele é importante para sanarmos dúvidas e tira-las também!! Antes de lhe perguntar algo,gostaria de saber se você realmente responde nossas perguntas.Obrigada!!

Virgilio Nascimento disse...

Na maioria das vezes respondo diretamente as pessoas interessadas.

Karine Damasceno disse...

Amar-se é ponto chave para que se possa amar outra pessoa,afinal,só posso transmitir aquilo que cultivo e tenho feito brotar em meu viver.

Ótima matéria!!

Anônimo disse...

Boa tarde,

Gostaria de um email para contato.
Meu email é tanapanther@hotmail.com

Obrigada

Unknown disse...

GOSTARIA MUITO DE LER O LIVRO RELAÇÕES LIQUIDAS. COMO FAÇO PARA ADQUIRI-LO?