segunda-feira, 5 de maio de 2008

SEIS MITOS QUE ENVOLVEM O CASAMENTO


Calvin Thomsen

A felicidade no matrimônio pode ser duradoura ou fugaz. Alguns estão casados por 40 anos ou mais, e o amor e romance estão vívidos, alegres como se fossem casados há um mês. Outros mal terminam de abrir os presentes de casamento e já percebem amargura no relacionamento, passando a pensar em divórcio ao invés de um lar permanente. O que faz a diferença entre a felicidade duradoura e um breve romance no casamento?

Pesquisas modernas nos dão algumas indicações. John Gottman, professor de psicologia da Universidade de Washington, realizou algumas pesquisas pioneiras no atual contexto norte-americano. Gottman tem estudado milhares de casais, levando em consideração as muitas variáveis que afetam a estabilidade matrimonial. Sua pesquisa tem ajudado a esclarecer fatores que conduzem à felicidade conjugal, e outros indicativos que apontam para uma batalha penosa rumo a um provável divórcio.

A pesquisa também sugere alguns dos grandes mitos que cercam o amor e o casamento. Esses mitos não se originaram dos antigos rituais e lendas tribais, mas da suposição comum que muitas pessoas acatam como verdade. Vale a pena explorar alguns desses mitos e analisar as implicações de construir uma sólida relação matrimonial.

Mito 1: Grandes expectativas podem arruinar o casamento.
O casamento geralmente é visto como uma boa proposta de negócios — criar filhos, gerenciar bens e construir alianças entre famílias. Além do mais, esperamos que o casamento seja eternamente romântico, cheio de paixão sexual, amizade íntima, abrangendo todas as bases tradicionais de paternidade, conexões familiares e administração financeira cotidiana.

As altas expectativas são consideradas como irreais e prejudiciais a um casamento feliz, mas pesquisas recentes indicam que, conquanto seja necessário ser realista em nossas esperanças, as altas expectativas podem levar a maiores investimentos e a melhores resultados na relação. Pessoas com baixas expectativas aparentemente não investem muito num bom relacionamento e estão dispostas a se contentar com uma união mediana ao invés de excelente. Gottman diz: “Pessoas que têm altos padrões e expectativas para o seu casamento desfrutam melhores e não piores uniões”.1

Mito 2: Homens são de Marte e mulheres de Vênus.
Essa expressão, derivada de um livro muito conhecido por seu título, sugere que homens e mulheres possuem diferenças profundas e desejam fundamentalmente coisas diferentes em seus casamentos. Um dilúvio de livros populares tenta ajudar os casais a lidarem com suas diferenças, sob a premissa de que existe uma enorme lacuna entre o que homens e mulheres desejam. E, ainda mais importante, eles negligenciam o fato de que a evidente diferença entre os sexos tem estado ligada, na pesquisa, a casamentos infelizes, porquanto “existem muito poucas diferenças de sexo em casamentos felizes”.2
O “machismo tradicionalista”(refletido na dominante e controladora abordagem do casamento) está estatisticamente correlacionado a baixos níveis de qualidade no matrimônio.3

Sim, existem algumas diferenças comuns que surgem em varias pesquisas.
O fato é que muitas delas também mostram que homens e mulheres querem consideravelmente as mesmas coisas no casamento, e ambos relatam que a profunda amizade é o mais satisfatório num bom relacionamento. Listas de outros fatores que predizem um bom casamento mostram que há somente leves diferenças em como os sexos se posicionam, quanto ao que realmente os satisfaz numa relação íntima.4

Casais que constroem sólidas relações estão sintonizados com as personalidades específicas de seus parceiros, e buscam uma firme amizade como base do bom relacionamento. Eles respeitam as diferenças entre os sexos quando elas existem, e buscam opções para satisfazer as necessidades um do outro. Conquanto a Bíblia, de certa forma, use uma linguagem diferente para descrever o papel do homem e da mulher no casamento, o elemento comum é, mutuamente, uma atitude altruísta em que ambos estão receptivos e atentos às necessidades do outro (ver Efésios 5:21-33).

Mito 3: Ouvir efetivamente e evitar a ira são as chaves para administrar conflitos numa boa relação.
Durante várias décadas tem surgido uma variedade de livros e artigos, sugerindo que os casais empreguem o processo conhecido como “ouvir efetivamente” durante os conflitos matrimoniais. Ouvir efetivamente envolve clara identificação dos sentimentos do outro, usando palavras ternas e tentando repetir as preocupações citadas pelo parceiro em forma de paráfrase. Isso é bem similar ao que os terapeutas fazem quando escutam seus clientes. Os pesquisadores que analisaram cuidadosamente as brigas matrimoniais esperavam encontrar, nos casais bem-sucedidos, o uso regular desse conhecimento para resolver seus desentendimentos e esclarecer conflitos no casamento.

Mas não foi isso o que eles descobriram. De início, eles notaram que praticamente ninguém, na verdade, fala dessa forma no calor de uma discussão. As pessoas simplesmente não usam as palavras prescritas quando as tensões estão em alta. Ainda em raras situações, quando o fazem, não há direta influência na resolução do conflito. Nas palavras de Gottman, “isso nada prediz”.5
O estudo, porém, indicou que ouvir efetiva e atenciosamente é valioso de muitas maneiras. Por exemplo, pode ajudar um parceiro a escutar enquanto o outro está se queixando de alguém mais (como o chefe no trabalho). Também é de muita valia numa “conversação de recuperação”, que os casais trabalhem pela restauração do relacionamento depois de uma briga. E isso pode definitivamente ajudar os casais a fortalecerem a intimidade e passarem a conhecer melhor um ao outro, quando não estão em meio a um conflito. Mas a pesquisa matrimonial mostra que, no calor de uma briga, poucas pessoas têm a capacidade de seguir as “regras” da boa comunicação.
Também é interessante o estudo da ira no contexto matrimonial. A ira, por si só, não foi correlacionada estatisticamente ao divórcio, mas o descaso e a atitude defensiva, sim.6 Casais que brigam muito não são necessariamente menos felizes do que pares que não brigam. Muitos casais que tendem a brigar também sabem como beijar e fazer as pazes. Em verdade, um certo volume de conflito e disputa foi relacionado à duradoura paixão no casamento.7

Não é a ira em si que mina o casamento, mas o fracasso em resolvê-la.
A Bíblia afirma que a ira não é pecado (Efésios 4:26), mas também diz “não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Escutar efetivamente pode ser parte do reparo de uma relação após um conflito, mas necessitaremos perdoar a nós mesmos e a nosso companheiro pelas imperfeições na maneira com que lidamos com as diferenças.

Mito 4: Os casamentos inevitavelmente decaem com o tempo.
Embora muitos casais citem um declínio na satisfação matrimonial com o passar do tempo, há muitas descobertas interessantes em recente pesquisa que mostra não ser isso inevitável. Na verdade, o casamento é como muitas outras coisas; é totalmente possível ficar melhor com a prática. O terapeuta matrimonial David Schnarch diz que é apenas mais tarde na vida em conjunto com um parceiro monogâmico, que as pessoas podem começar a descobrir sua paixão e potencial sexual.8 Da mesma forma, a pesquisa de Gottman mostrou que muitos casais descobrem maior tolerância, maior apreço e muito maior desejo de estar com o outro com o passar do tempo. A maior felicidade no casamento não parece ser encontrada na euforia inicial, mas na satisfação em longo prazo havida num matrimônio de muitos anos.

A paixão não é algo dependente da idade. Agora sabemos muito sobre a bioquímica e neurologia do amor e da paixão. A “química” de um relacionamento muda com o tempo. Há uma euforia inicial num novo amor que geralmente dura cerca de dois anos, e o tipo específico de química que caracteriza um relacionamento de longo prazo não é o mesmo da química embriagante que fomenta um novo amor.

Mito 5: Uma pessoa que sente pouca paixão sexual espontânea está sexualmente morta e é uma pobre parceira conjugal.
Quando imagens superaquecidas de sexo constantemente bombardeiam através da mídia, muitas pessoas casadas sentem que deveriam estar continuamente abrasadas com paixão por seu cônjuge.
Até bem recentemente, os sexólogos supunham que todas as pessoas experimentam o desejo sexual da mesma forma. Algo que você sente desperta um sentimento subjetivo de estimulação. A estimulação gera o desejo sexual, mas, como Michelle Weiner Davis cita, “para algumas pessoas, o desejo sexual — o motivo de tornar-se sexual — não precede o sentimento de excitação; ele na verdade o segue”.9 Em outras palavras, há pessoas que raramente experimentam fantasias apaixonantes, mas, se elas se sentem excitadas com seu parceiro, podem descobrir que apreciam profundamente a experiência e se tornam muito mais unidas.

Mito 6: Os opostos se atraem.
A proposição dessa crença é de que somos atraídos por alguém com muitas diferenças, porque nos sentimos mais completos diante das desigualdades dele ou dela. Mais uma vez há alguma verdade nisso, mas não em sua totalidade. As pessoas procuram encontrar algumas diferenças como fator positivo e ponto de atração. As pesquisas mostram que as melhores uniões incluem mais similaridades do que diferenças, e que sendo parecidos em muitos aspectos (tais como idade, educação, preferência religiosa e valores básicos de vida, etc.) haverá maiores níveis de satisfação marital.10 Uma pesquisa sobre tipos de temperamento (tais como a escala de Meyer’s Briggs) mostra que os casais podem apreciar algumas diferenças mas, aqueles que são opostos em todas as quatro escalas são menos felizes que os mais parecidos.11

O melhor meio de abordar o assunto sobre as diferenças é entender que a maioria de nós aprecia poucas diferenças-chave nos estilos que dão equilíbrio à vida. É bom aceitar essas diferenças e não começar um projeto de reforma massiva, uma vez que já nos “enforcamos” mas, se você está procurando um parceiro, não suponha simplesmente que muitas diferenças serão fáceis de superar. As diferenças a que você “faz vistas grossas” na relação podem tornar-se mais desafiadoras com o passar do tempo. É muito melhor buscar alguém que realmente compartilhe seus valores básicos e estilo de vida.


Calvin Thomsen é pastor do ministério familiar na Universidade de Loma Linda da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Califórnia. Thomsen está concluindo seu Ph.D. em terapia matrimonial e familiar, e leciona terapia familiar, terapia matrimonial e terapia sexual na Universidade de Loma Linda, sendo ainda conselheiro pastoral na Universidade de La Sierra Email: cthomsen@lluc.org.

REFERÊNCIAS
1. John Gottman, The Marriage Clinic: A Scientifically Based Marital Therapy (New York, Norton, 1999), p. 18.
2. Idem, p. 83.
3. Robert Sternberg, Cupid’s Arrow: The Course of Love Through Time (Cambridge: Cambridge University Press, 1998), p. 123.
4. Idem, 150-152.
5. Gottman, p. 11.
6. Idem, p. 12.
7. Idem, p. 14.
8. Ver David Schnarch, Passionate Marriage (New York: Holt, 1997).
9. Michelle Weiner Davis, The Sex-Starved Marriage (New York: Simon and Schuster, 2003), p. 12.
10. Ayala Pines, Falling in Love: Why We Choose the Lovers We Choose (New York: Routlidge, 1999), p. 53.
11. David Keirsey, Please Understand Me II (Del Mar, California: Prometheus Nemesis Book Company, 1998), p. 212.

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