Apenas um em cada quatro brasileiros casados espera fidelidade do parceiro. Isso significa que 75% das pessoas comprometidas acreditam que, mais cedo ou mais tarde, podem ter de encarar a traição. Os dados são de uma pesquisa que ouviu mais de mil pessoas casadas (ou com parceiro fixo) no Brasil.
"Parece que ter um relacionamento extraconjugal já foi incorporado pela nossa cultura, mesmo que isso não seja o que as pessoas almejam", diz a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, que fez a pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro, em 2000.
Num livro recentemente publicado nos Estados Unidos, o psicólogo David Barash e a psiquiatra Judith Eve Lipton dedicam-se a questionar o que chamam de mito laboriosamente erigido pela cultura humana: a monogamia. Escrito com enorme graça e fluência,The myth of monogamy: fidelity and infidelity in animals and people (“o mito da monogamia: fidelidade e infidelidade em animais e pessoas”, ainda inédito no Brasil) dedica-se a confrontar de forma erudita a propalada idéia de que homens e mulheres seriam naturalmente predispostos a viver juntos até que a morte os separe.
Barash e Lipton mostram que são outras coisas – bem distantes de coloridas certidões de casamento e de funestos atestados de óbito – que costumam unir ou desunir casais. “A tendência à infidelidade é natural, o que não quer dizer que seres humanos não possam resistir”, diz David Darash, professor de psicologia na Universidade de Seattle, no estado americano de Washington. E, como exemplo da naturalidade dos instintos infiéis, Barash (ele próprio “resistindo” há mais de 20 anos em seu casamento com Judith, co-autora do livro) lembra que, entre os outros animais, a monogamia praticamente inexiste. E quando há, a incidência maior é da parte das fêmeas. “Monogamia geralmente implica exclusividade”, diz o casal de autores.
“O mais poderoso mito que envolve a monogamia é aquele que diz que, ao encontrarmos o amor das nossas vidas, nos dedicaríamos inteiramente a ele”, afirma Barash. “A biologia mostra que há um lado irracional e animal no comportamento humano.” O que nenhuma explicação científica parece dar conta é do componente fundamental de toda relação humana: o amor. Sentimentalismos (e biologia) à parte, é o amor que sedimenta o envolvimento entre dois humanos que se gostam.
Por mais que se queira justificar a Infidelidade utilizando-se o argumento biológico está claro que os seres humanos são muito mais do que o biológico. Somos seres influenciados e sobredeterminados pela cultura. Segundo Laraia (2001), a cultura não só condiciona nossa visão do mundo, como também interfere no plano biológico. Desta forma muito da chamada tendência biológica fica submetida a uma ordem maior: a Cultura.
O ato criador da humanidade, a partir do primeiro casal, deixa claro que o plano divino da sexualidade e casamento vai muito além dos instintos e desejos. A fidelidade estaria subentendida na expressão e “...serão uma só carne”. A dedicação e exclusividade do casamento sedimenta e fortalece a união, um terceiro individuo destrói esta harmonia.
Mesmo em tempos pós-modernos, como toda a suposta liberação sexual, o tema fidelidade ainda é requerido e defendido nas relações amorosas. Em recente pesquisa no Grande Rio, entre 400 mulheres evangélicas, pode-se comprovar que entre tantos atributos e condições, para a Manutenção do Casamento a fidelidade é tida como a atitude mais importante entre os cônjuges. Maior ainda que o Amor. Cerca de 98% das 400 mulheres entrevistadas afirmaram que homens e mulheres devem permanecer fiéis na relação, não concordam com a infidelidade mesmo com a ausência do amor.
Até mesmo a CNBB reiterando o valor da fidelidade conjugal em recente carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz: “É preciso ter a coragem de dizer a verdade aos filhos, à sociedade e ao estado: não existe sociedade estável sem família bem constituída; não há família bem constituída sem fidelidade conjugal; e não há fidelidade conjugal sem educação da afetividade e do sexo, sem autocontrole.”
A fidelidade é própria de pessoas amadurecidas, que são capazes de discernir os verdadeiros valores e pagar por eles o seu preço. O bem do matrimônio e da família merece que seja vencida qualquer tentação de adultério.
Por outro lado a fidelidade é um valor que precisa ser ensinado e reforçado inicialmente na família, até que esteja internalizado na conduta no indivíduo. “Deve a mente ser exercitada por meio de provas diárias a hábitos de fidelidade, a um senso das reivindicações do direito e do dever acima da inclinação e do prazer. As mentes assim exercitadas não hesitam entre o certo e o errado, como o junco oscila ao vento; mas tão logo se lhes apresente o assunto discernem imediatamente que o princípio está envolvido, e instintivamente escolhem o direito sem discutir o assunto por muito tempo. São leais porque se exercitaram para hábitos de fidelidade e verdade.” Testimonies, vol. 3, pág. 22.
A receita de Fidelidade parece simples: - começando pela fidelidade nas coisas pequenas é que a alma pode ser qualificada para agir com fidelidade sob responsabilidades maiores.
Um comentário:
Caro Dr. Virgilio, estou aqui novamente para prestigiar esse espaço para debates sobre assuntos desta natureza. A fidelidade no amor deve ser ensinada no lar, marido e esposa deve ser um exemplo aos filhos, infelizmente nossa cultura, o pensamento pos-moderno tem lançado abaixo os principios que devem nortear os relacionamentos conjugais.O secularismo, a midia tem promovido um agravante prejuizo a vida a dois. A fidelidade assim como a lealdade deve ser um exercicio continuo. Que Deus nos abençoe!
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