sexta-feira, 30 de março de 2007

Sexo além do comum

Para manter a satisfação sexual em alta, deve-se investir no diálogo e respeitar os gostos individuais. Sair a noite ou caminhar pelas areias da praia são formas de aumentar a intimidade. Isso é importante para criar um clima favorável. Sexo e qualidade de vida são temas que andam juntos. Não fosse assim, a divisão de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) não realizaria periodicamente estudos internacionais que incluem a sexualidade. Nas consultas feitas pelos pesquisadores, há espaço para perguntar sobre a satisfação sexual, valendo tantos pontos quanto a vida familiar, por exemplo.

O acesso mais fácil a relações sexuais ocorre entre as pessoas casadas, como sugere a lógica e comprovam os estudos. Mas o tempo prova que quantidade não significa qualidade. Com o passar dos anos, muitos pares tendem a sofrer também com a escassez de prazer na cama. Um dos problemas é a diminuição da libido. Qual seria a chave para resolver o drama da falta de tesão no relacionamento e manter o casamento vivo? Se não houver problemas de saúde, como vaginismo (espasmo doloroso da musculatura da região genital) ou doenças sexualmente transmissíveis, nem psicológicos (caso de depressão), não há razão para o pique sexual cair.

Para começar, muitas vezes é possível melhorar a relação com diálogo. Alguns casamentos definham por causa da falta de comunicação. “Todos pensam que não se pode falar sobre sexo. Só fazê-lo. Mas duas pessoas nunca se entenderão na cama se não falarem do que gostam e do que não gostam”, afirma a psicóloga Aparecida Favoreto, diretora do Instituto Paulista de Sexualidade. Sem essa troca, é comum a frustração ficar camuflada. E, para não deixar a libido lá embaixo, ter satisfação é fundamental. Por isso, para solucionar a crise o casal deve abrir o jogo, com delicadeza e compreensão.

Pesquisa feita pela entidade revelou que 90% dos casais com dificuldades sexuais que procuram terapia conseguem ter seus problemas resolvidos em seis meses, em média. Uma das bases da terapia é estimular o diálogo. Pode ser uma conversa erotizada, já nas preliminares. Mas o par não precisa estar sob os lençóis para abordar o assunto. Um jantar ou um passeio também são ocasiões para isso. O casal pode começar, por exemplo, com perguntas sobre quais pontos do corpo, além dos genitais, são mais sensíveis a carícias.

Virilidade – Para Aparecida, a mulher deve tomar a iniciativa da conversa, pois o parceiro frequentemente não tem consciência de que há algo errado no modo como encara a relação sexual. Isso porque ele está habituado a cumprir o papel que a sociedade lhe impôs: o de mostrar virilidade. Por essa razão, o homem costuma ser mais objetivo na cama. Até mesmo a biologia colabora para alimentar essa característica. Ele tem 30 vezes mais testosterona, hormônio responsável pela libido, do que ela. De qualquer modo, atualmente a mulher está mais disposta a pensar em sexo.

Hoje, um terço das pessoas que recorrem ao Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo (Prosex) é do sexo feminino – há oito anos, havia seis vezes mais homens em tratamento do que mulheres. É claro que nem sempre a perda de qualidade da atividade sexual está na falta de comunicação. Ela pode estar relacionada à formação da família, atrelada à perda de privacidade do casal. Como forma de economizar, muitos recém-casados vão morar na casa de parentes, principalmente dos pais. “O problema passa a ser a convivência com os familiares, que não deixam o casal a sós, dificultando o desenvolvimento da sexualidade”, avalia Aparecida. Com isso, as relações vão rareando.

Uma forma de controlar a situação é estabelecer momentos exclusivos para o casal, mesmo que não envolvam a transa. Sair juntos aumenta a intimidade do par. Isso é importante para manter um clima bom entre ambos. A perda de privacidade pode ocorrer ainda com a chegada dos filhos. “O casal se desapaixona provisoriamente para se apaixonar pela criança, e esquece de manter o hábito sexual”, diz a sexóloga Márcia Nehemy, da Universidade de Campinas. Ela lembra que também há influência biológica: a mulher ganha mais prolactina, hormônio que libera a produção de leite, durante a gestação e após o parto. A substância diminui o desejo feminino.

Márcia destaca mais um ponto para a manutenção de uma boa vida sexual: o respeito à individualidade. É importante que ele e ela construam um universo particular de valores do qual o outro não precisa fazer parte. “Para alguns homens, por exemplo, o futebol ou o bar com os amigos é sagrado. A mulher também tem o direito de construir suas ‘mesquitas’”, diz a especialista. Nesse caso, ela também pode estabelecer uma rotina com as amigas. Por exemplo, a criação de um time de futebol feminino. Prazeres ocasionais como esse ajudam a mulher a elaborar um mundo particular saudável. E às claras.


Muitas pessoas desenvolvem a individualidade por debaixo do pano. A infidelidade é um dos frutos desse problema. Dessa forma, a pessoa vive num universo paralelo. “Para tornar harmônica a necessidade de privacidade sem traição, o ideal seria o casal ter uma vida intensa em comum, mas também preservar a individualidade de cada um”, conclui a sexóloga Márcia.

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