terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A NATUREZA DOS CONFLITOS SEXUAIS FEMININOS

Determinantes Físicos das Disfunções Sexuais

Basicamente, não pode existir relação sexual (coito) bem sucedida sem a presença de um pênis e uma vagina funcionantes e respondentes. A integridade destes órgãos a nível vascular, nervoso e endócrino torna-se fundamental para a satisfação sexual. Muitas disfunções advêm de problemas somáticos e, no caso de tratamento, sempre se analisa inicialmente a condição física do indivíduo. A presença de doenças vasculares associadas com diabetes pode resultar na diminuição da excitação sexual; doenças do coração e pulmões também podem dificultar a atividade sexual; incontinência urinária pode levar a desconforto e vergonha, diminuindo a atividade sexual e etc. Estes e outros fatores devem ser amplamente analisados pelo médico. Tratamentos adequados podem levar a uma melhora clínica, facilitando a atividade sexual (Kaplan, 1977).

Além dos casos de doenças, outros fatores podem interferir como uso de narcóticos, abuso de bebidas alcoólicas, patologias locais dos órgãos genitais, estados hormonais flutuantes, uso de medicamentos, fadiga, enfermidade neurológica, depressão e outras causas físicas (Kaplan, op.cit.). Estes fatores podem comprometer a relação atuando em qualquer fase da resposta sexual humana, impedindo o bom desempenho sexual e o prazer mútuo. Ainda devemos considerar como fator físico interveniente na função sexual feminina a idade, com todas as transformações físicas e psicológicas que ocorrem com o envelhecimento.

De acordo com Canella (2000) o climatério feminino corresponde a um período de dois a cinco anos, caracterizado pelos fenômenos que acompanham a parada da função ovariana e, portanto, a capacidade reprodutiva da mulher. Acompanhado da menopausa viriam significantes alterações morfo-fisiológicas do aparelho genital feminino. Estas alterações, por exemplo, seriam responsáveis pela menor vascularização e lubrificação da vagina nos estados excitatórios do coito, possibilitando desconforto no ato sexual.

O climatério feminino, além das mudanças físicas, inclui importantes mudanças emocionais, psicológicas e sociais, associadas ao final do período reprodutivo da mulher, porém abrangendo muito mais do que apenas o fim das menstruações. O surgimento de alguma disfunção sexual pode ocorrer nestes quadros.

Segundo Lopes e Marinho (2000) a menopausa vem sendo considerada um evento demarcador do climatério feminino, no entanto, apesar de se constituir como um evento universal inerente à espécie humana, não é adequada para explicar toda multiplicidade de fatores envolvidos nesse processo. O conjunto de fenômenos denominados como climatério, não é observado nem percebido de forma igualitária, o que permite inferir que outras variáveis pessoais, conjugais, sociais e culturais representem aspectos importantes a serem considerados, quando são desenvolvidos estudos sobre o assunto em questão.

Determinantes Psicológicos das Disfunções Sexuais

É importante que reconheçamos que fatores etiológicos subjacentes às dificuldades sexuais, geralmente apresentam-se sob forma de conflitos de ordem psicológica advindos de experiências traumáticas ou de estruturas de formação repressoras à sexualidade. Tais componentes interferem diretamente no momento da experiência sexual, ora funcionando como inibidor da experiência erótica, ora na dificuldade de eliminação temporária de certo grau de controle e contato com o ambiente, comum no ato sexual.

Causas intrapsíquicas das disfunções sexuais

Segundo Kaplan (1977), o conflito psicológico foi que, no passado, recebeu maior atenção e, de fato, é extremamente importante a sua dissolução para o tratamento das disfunções sexuais. O conflito interno entre o desejo de satisfazer-se com o sexo e o medo inconsciente de fazê-lo, tem muitas fontes e operam em níveis superficiais e/ou mais profundos.

Algumas causas psicológicas podem ser entendidas como imediatas, ocorrem no contexto da experiência sexual, ou como impedimento da experiência erótica ou como falha no desempenho sexual. Os indivíduos geralmente apresentam altos níveis de ansiedade e defesas psíquicas contra os sentimentos sexuais. Algumas respostas insatisfatórias são fruto de ignorância sexual, geralmente oriundas de uma educação repressora. Alguns medos (de rejeição, de desempenho, insatisfação do parceiro) podem surgir por ocasião do afloramento de todo processo de excitação sexual. Sentimentos: como culpa e ansiedade, podem refletir lutas e esquivas inconscientes. Algumas pessoas são tomadas de conflitos e sentimento de culpa sobre os desejos e necessidades eróticas que desencorajam os parceiros no processo de estimulação erótica. Por outro lado a tensão sexual pode ser a grande fonte geradora de ansiedade provocada pelo desejo erótico. Tais desejos podem chocar-se com pensamentos proibidos advindos da formação do indivíduo. A ortodoxia religiosa age muitas vezes na construção deste “programa” de censura e defesas cognitivas. No ato sexual as funções autônomas precisam permanecer livres do controle consciente para que se desenvolvam naturalmente (Kaplan, op.cit).

A ocorrência de falha na comunicação do casal em comunicar francamente os sentimentos e experiências sexuais, geralmente ligados ao nível de confiança desenvolvidos entre os dois, potencializa as dificuldades, sendo importante fator na etiologia das disfunções sexuais. Villa (2002) destaca que a religião acaba exercendo uma forte influência sobre o relacionamento conjugal, inclusive limitando o repertório de habilidades interpessoais, produzindo regras inibitórias no contexto da relação sexual, algumas destas ligadas a esquemas de punições e reforço. Kaplan (1977) comenta que infelizmente nossa sociedade compara sexo e pecado. Por esse motivo, toda a manifestação do desejo de prazer sexual de uma pessoa está sujeita a ser negada, ignorada e tratada como coisa vergonhosa e em geral incessantemente atormentada por conseqüências e associações aflitivas, sobre tudo no período da formação moral - a infância. Daí ao mesmo tempo em que o intenso prazer da sexualidade demonstra ser a força poderosa e onipresente na existência humana, é também facilmente associada ao medo e sentimento de culpa, imobilizadores da boa resposta sexual.